A História Silenciosa de Florianópolis: Memórias Apagadas

Florianópolis, para além das praias e cartões-postais, é também uma cidade atravessada por disputas de memórias. O surgimento das primeiras edificações, por exemplo, se deu por mão de obra escravizada, mas este fato é frequentemente apagado pelos passos ligeiros do crescimento urbano. Os estudantes da 2ª série do Ensino Médio conheceram este ponto de vista pela primeira vez em uma saída pedagógica do Itinerário Formativo de Ciências Humanas, com os professores Rafael Garcia e Oto Luna, ao centro da cidade, acompanhados do Guia Manezinho.

Helena Cyrne, 2ª série EM: “O guia Manezinho nos contou que foram os escravizados que construíram vários daqueles prédios, mas eles não podiam frequentar. Tinham lugares para negros e lugares para brancos.”

Na disciplina de Observatório Geográfico, os jovens estudaram sobre os investimentos públicos e privados em áreas degradadas do centro histórico. Esses investimentos transformaram a paisagem urbana e as dinâmicas sociais e econômicas na cidade.

Giovanna Galastri, 2ª série EM: “Isso faz parte do que se chama de gentrificação. Este processo começa com o aumento dos aluguéis, e se a pessoa não tem dinheiro, ela tem que ir para outro lugar. Aliado a isso, eles fecham as escolas públicas e levam elas para mais longe do centro.”

Helena Cyrne, 2ª série EM: “Afastar cada vez mais as pessoas pobres dos lugares que frequentam as pessoas de classe média serve para “limpar” a cidade a serviço dos mais ricos, expulsando essa população para os morros. O setor imobiliário é quem detém mais dinheiro em Florianópolis, e eles podem fazer isso. Eles que aumentam os aluguéis, mudam os prédios para outros lugares e fazem o que querem.”

Giovanna Galastri, 2ª série EM: “Além do preconceito, tem muitos turistas vindo para cá, eles estão fazendo reformas para enriquecer a cidade, mas a riqueza não vai para todas as pessoas da cidade. Vai principalmente para os grandes proprietários e as pessoas que detêm o poder político.”

Helena Cyrne, 2ª série EM: “A ideia é que o estudante da escola particular não pode se misturar com o estudante da escola pública.”

Giovanna Galastri, 2ª série EM: “Tudo envolve muito as questões raciais. Às vezes eu nem me tocava, afinal eu sou branca. Eu não tinha essa consciência de que quem tem dinheiro também tem o poder político. A gente não sabia que o centro era assim dividido. O lado dos negros era onde as coisas eram mais baratas, com estruturas precárias. Até hoje isso é visível. “

O centro da capital, por onde circulam milhares de pessoas diariamente, passou a ser enxergado de outra forma pelos estudantes. A saída de estudos, além de oferecer novas camadas de leitura sobre o espaço urbano, também fortaleceu o senso crítico dos jovens sobre os conflitos sociais que moldam a cidade. É no reconhecimento dessas marcas, até então invisíveis, que começa a possibilidade de mudanças sociais.

Comentários