As rotinas e sua importância
Durante os primeiros meses de vida a criança não tem noção de que ela e a mãe são diferentes. Para ela, tudo é ela, ela é o centro das atenções.
Imaginem, portanto, o desafio – e a angústia – que a criança enfrenta quando descobre pouco a pouco que ela e a mãe são pessoas diferentes: se a mãe não está nela, ela pode perde-la? Uma das primeiras tarefas da criança no seu desenvolvimento é, portanto, ter a segurança de que as coisas não deixam de existir só porque desaparecem de seu olhar, assegurar-se da permanência das coisas e da mãe, mesmo quando não as vê.
DESCOBERTAS E REPETIÇÃO
Ao descobrir que consegue segurar a caneca, a criança vai repetir o gesto de pegá-la à exaustão – muitas vezes, para irritação dos pais, já que quase sempre o gesto é acompanhado de outro: jogar a caneca no chão. Esse ato – jogar no chão a caneca para que alguém lhe dê de volta a caneca – lhe traz a certeza da permanência dos objetos e da mãe.
É nesse momento, também, que se nota com mais clareza outro aspecto do desenvolvimento infantil: a repetição. Com ela, a criança vai também ganhando segurança no gesto, consolidando a conquista, se preparando para o próximo passo: leva-la à boca sem derramar o leite e se sujar toda.
Essa repetição é também fonte de prazer. Da mesma forma que repetimos à exaustão para os parentes as conquistas dos nossos filhos, ou, simplesmente, as façanhas do time do coração quando ele ganha um campeonato, as crianças repetem seus gestos ou suas descobertas centenas de vezes, para ter a certeza de que conseguiu mais uma conquista e ter prazer em saber disso.
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO: PONTOS DE REFERÊNCIA
A grande maioria das crianças tem também um ou vários os objetos fetiches: a boneca, o ursinho, o carrinho preferido, o paninho do qual ela não se separa nunca. Eles trazem conforto, segurança, representam a permanência e a continuidade dos seus pontos de referência, já que seus pais podem estar ausentes.
À medida em que vai descobrindo o mundo, a criança vai aprendendo a entender como as coisas e as atividades humanas são distribuídas no espaço. Há a cozinha – onde tem algo perigoso, o fogão – e o banheiro, a sala e o quarto, a cama e o armário, a casa em que mora e a da avó, a rua onde passam carros e a garagem onde eles ficam parados, o meu brinquedo e o do meu irmão ou amigo.
O desenvolvimento da consciência temporal é também fundamental. As crianças vão, progressivamente, aprendendo a tirar proveito do tempo, descobrindo os momentos em que os demais seres humanos – e até os animais – costumam fazer as coisas: a hora de levantar-se e lavar o rosto, a hora de almoçar, a hora de escovar os dentes, a hora de ir para a Escola, a hora de voltar para casa, a hora da historinha antes de dormir, o Natal, as férias, o dia do aniversário, o sábado, o domingo…
ROTINAS, SEGURANÇA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Longe de ser fonte de tédio ou constrangimento, essas rotinas e organizações são fonte de segurança e prazer.
Por essas razões, uma das atividades pedagógicas mais importantes que realizamos é a definição dos “combinados”, do que se pode fazer e do que não se deve fazer no ambiente escolar. Não se trata apenas – apesar de ser um exercício importante – aprender a definir e respeitar leis e regras de convivência com os demais seres humanos. Trata-se de estabelecer pontos de referência, fatores de segurança e conforto. Trata-se, também, de estabelecer limites para o que pode e o que não pode ser feito.
Dentre esses “combinados” está a organização do espaço nas salas, uma das atividades pedagógicas que desenvolvemos. Cada aspecto dela tem a sua importância: o nome do aluno na cadeira, no gancho das mochilas ou nos escaninhos, ajuda no processo de reconhecimento dos símbolos escritos, mas também auxilia o aluno a se situar naquele ambiente, ter pontos de referência, organizar seus materiais. O local de cada tipo de objeto – as mochilas, os brinquedos, os livros, os objetos pedagógicos da professora, as mesas e cadeiras – é também debatido e explicado.
Todas as turmas tem, também, sua rotina diária, semanal, anual. Em geral, o horário de chegada é destinado às primeiras socializações, aos relatos das novidades de cada um. Assim, desenvolve-se a linguagem, a capacidade de organizar e de expressar seus pensamentos, mas também a capacidade de escuta, o respeito ao outro. Depois, sucedem-se uma série de atividades com seus horários: os diferentes momentos de trabalho com a professora, a hora do lanche, a hora de lavar as mãos para comer ou escovar os dentes depois de comer, a hora do parquinho, a hora de arrumar suas coisas para voltar para casa.
A rotina semanal tem a hora do conto, o dia da educação física, o da música, o do inglês, o do brinquedo, o da culinária do projeto Pequenos Gourmets da Ilha. Há a Festa da Família, o Encontrão, a Festa Junina, o Arte na Ilha, o lançamento dos livros dos Pequenos Gourmets, as férias…