A ALFABETIZAÇÃO
A alfabetização é um longo processo de aprendizado que deve, na sua conclusão, permitir que a criança seja capaz de ler e entender o conteúdo de textos complexos, bem como escrever textos também complexos de diferentes tipos.
Trata-se de um processo longo, que envolve a aquisição de várias habilidades e depende de vários fatores, em particular do desenvolvimento do metabolismo de cada aluno.
É por volta dos 6 anos de idade que a mielina começa a se acumular nas partes do cérebro envolvidas no desenvolvimento da linguagem e do pensamento abstrato. A mielina é uma proteína que envolve as membranas do tecido nervoso, em particular nas ramificações que estabelecem as conexões entre neurônios, permitindo uma condução mais rápida e eficaz dos impulsos nervosos. Essa é uma condição imprescindível para o desenvolvimento da capacidade de abstração, e portanto, da capacidade de ler e escrever.
Por essa razão, alguns alunos se alfabetizam naturalmente muito cedo, outros só aos 7 anos, não em razão de maior ou menor inteligência, mas em razão de diferenças na evolução de seu metabolismo, de graus de “maturidade” diferentes.
É importante saber que o processo é lento e passa por diversas etapas, nas quais a criança vai elaborando hipóteses sobre a representação linguística (das frases, das palavras), testando essas hipóteses e, uma vez adquirida uma habilidade ou um conhecimento, elaborando novas hipóteses e testando-as novamente.
Muito cedo, a criança aprende a copiar seu nome por escrito. Trata-se apenas, no início, de memorizar e reproduzir o desenho das letras, de forma mecânica (imitação), não da escrita, no sentido exato da palavra.
Com o tempo, a criança se torna capaz de elaborar hipóteses de interpretação sobre as letras, sílabas ou palavras com as quais tem contato (capacidade de abstração, de atribuição de significados). Do teste destas hipóteses, da confrontação constante com o mundo da escrita, do exercício da leitura e da escrita, ela vai construindo progressivamente a capacidade de reconhecer palavras, sílabas e letras, entende-las e reproduzi-las.
Assim se desenvolve a capacidade de ler e escrever palavras, depois pequenas frases, depois sentenças mais complexas e, por fim, textos coerentes e mais longos, nos seus diferentes tipos.
Nosso cérebro nasce preparado para ler em qualquer sentido, de cima para baixo e da esquerda para a direita, ou nos sentidos inversos, como o fazem vários povos (asiáticos, árabes, entre outros). O sentido da escrita não um dado natural, é uma convenção, um “combinado” definido de forma diferente em algum momento da história de cada povo. Por isso, a escrita com letra invertida ou a escrita espelhada é muito comum e perfeitamente natural. Para uma criança de 5 anos, não está totalmente errado escrever B$LO, em vez de BELO, ou opıʇɹǝʌuı no lugar de invertido.
Progressivamente, a criança vai compreendendo a função social da escrita e descobrindo as regras da representação adotadas pela sociedade na qual vive (os ideogramas chineses ou o alfabeto romano que adotamos).
O processo não é, portanto, linear, nem depende exclusivamente do trabalho do professor.
Desde o início do Infantil, nosso programa vai lançando as bases para esse processo, sobretudo pela familiarização com os símbolos: os avisos nas paredes, o nome dos alunos em suas cadeiras, os desenhos da tabela de rotinas semanais, o reconhecimento das letras do nome, etc. Não procuramos forçar o processo, apenas dar estímulos e auxiliar os alunos em suas descobertas. Em muitos casos, de forma espontânea, as turmas de 5 anos (Infantil D1), já confrontadas à linguagem escrita há algum tempo, iniciam o processo de alfabetização e muitos alunos concluem o ano já escrevendo pequenas frases.
O esforço programático da Escola para a alfabetização começa, de forma mais estruturada e efetiva, no 1º ano, mas é ao longo do 2º ano que espera-se a consolidação desse aprendizado, com a aquisição da capacidade de ler e interpretar textos mais longos (literatura infantil e outras formas de escrita simples) e de escrever frases simples, mas completas e claras.
É o que chamamos de “letramento”, de “alfabetização funcional”, competência que vai ser consolidada ao longo de todas as fases seguintes do aprendizado, com a capacidade de ler e escrever textos cada vez mais complexos, das mais variadas formas, dos bilhetes aos vários estilos de ficção (prosa, poesia), passando pelas redações e as respostas dissertativas nas provas, pelas diferentes formas de correspondência, pelos textos administrativos, etc.